Moda e Identidade: Giovana Castro e a marca “Griot”

Reconhecendo a importância do vestuário como forma de empoderamento e fortalecimento de uma identidade cultural, cresce, no mercado afro-empreendedor, marcas de moda com o objetivo de proporcionar o protagonismo de mulheres negras. A Revista Moda Sacola conversou com a historiadora Giovana Castro, uma das idealizadoras da marca “Griot”, de Juiz de Fora.

Moda Sem Sacola: Como surgiu ideia de começar a marca?

Eu venho de uma trajetória de muitos anos com nosso movimento do feminismo, feminismo negro especificamente. A Carla, minha sócia, tinha uma ideia de produzir alguma coisa, queria montar alguma coisa e eu já esboçava isso há algum tempo. E surgiu das nossas discussões do projeto que a gente tinha na escola. A gente queria uma marca que fosse diferente, com outras concepções que não existissem aqui em Juiz de Fora e aí veio a ideia de fazer uma marca voltada pro mercado afro-empreendedor, que é um mercado voltado e protagonizado por mulheres negras.

MSS: E qual sua relação com moda e com vestuário?

Eu gosto, mas não sou uma pesquisadora. Mas sempre conversei com outras mulheres negras pra entender a dificuldade de encontrar uma roupa que tivesse a cara da gente. A gente não acha nada interessante, que tenha a modelagem da gente, a questão do tamanho é um problema…. Mas nunca vi tendência, nunca acompanhei revista de moda, sempre foi uma coisa de observar, pensar algumas combinações…

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Giovana Castro. Foto: Arquivo pessoal

MSS: De que forma a moda e o vestuário podem ser formas de expressar a
identidade?

Não da pra pensar num corpo sem pensar no que que cobre esse corpo, não tem jeito.
Para nós, mulheres negras especificamente, a moda tem sido, principalmente pós anos 70, reconhecida como elemento de identidade pessoal e reconhecimento coletivo, tem várias camadas e expressões identitárias de ser mulher negra. A mulher negra não é uma expressão identitária única, nem todas usam black, trança ou dread. Esse corpo
negro que sempre foi um corpo de resistência no período escravocrata, no pós abolição
se torna um corpo de trabalho mais do que nunca e, para se inserir nesse mercado de trabalho, passa a obedecer uma ótica branca. Quanto mais próximo você está do fenótipo branco, mais aceitação no mercado de trabalho você tem. E quanto mais distante do fenótipo branco, mais dificuldade no mercado de trabalho, aí as mulheres começam a pegar a constituição dessa negação, dessa subalternidade e isso começa a mudar em algo positivo. Mas embaixo de um cabelo crespo, embaixo de uma trança, tem uma mulher negra sofrendo com todas as exclusões que ela sofre, todos os enfrentamentos que ela sofre e resistir a isso também é um ato de identidade. Não é só vestir a roupa, é uma concepção de vida. A forma como você consome, os lugares onde você compra, as pessoas com quem você se relaciona, forma como você se fotografa, as postagens que você faz.

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Criação da marca Griot. Foto: Divulgação

MSS: Como surgiu o nome “Griot”?

Griot na verdade é um nome de origem francesa, não é uma palavra de matriz africana, de nenhum país do continente africano. Griots são memorialistas, tem Griot de tudo, tem Griot de histórias políticas, narrativas épicas, Griot de música, de poesia. É a ideia da memória enquanto história viva. As culturas africanas, principalmente as da África negra, trabalham com a ideia do tempo circular que quando você fala uma narrativa, essa narrativa ganha vida, ela volta ao tempo presente, o passado não é um passado morto, O Griot é mais do que memória, ele é vivência e não é passado, é passado configurando o presente.

MSS: O nome da marca sendo Griot, podemos dizer que, de certa forma, as roupas nesse caso são a memória viva?

A ideia da Griot é: como que eu posso fazer da minha roupa um exercício de memória e resistência? O que significa pra essas mulheres, principalmente pra essas mulheres negras que vestem Griot? Significa uma roupa que não te oprime, que não te aperta, não diz que você é gorda, não diz que você não cabe num manequim que existe numa loja, que fala de um acolhimento, de um pertencimento, da possiblidade de você se vestir em uma roupa da qual você não se enquadrava. É a roupa que se encaixa em você.

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